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Porque se eu não compreender a vida, explica-me.
Porque se eu esquecer a ternura, lembre-me.
Porque Porque se eu não compreender a vida,explica-me.
Porque se eu esquecer a ternura,lembre-me.
Porque se eu me perder no caminho, mostra-me,
e se eu tiver pouco amor, salva-me com a poesia.
{Ita Portugal}

sexta-feira, 17 de abril de 2015

sentimos a dor

Among the Flowers por {peace&love♥} em Flickr
Sentimos a dor, mas não a ausência da dor; sentimos a inquietação,
mas não a ausência da inquietação; o temor, mas não a segurança.
Sentimos o desejo e o anelo, como sentimos a fome e a sede;
mas apenas satisfeitos, tudo acaba, assim como o bocado que,
uma vez engolido, deixa de existir para a nossa sensação.
Enquanto possuímos os três maiores bens da vida,
saúde, mocidade e liberdade, não temos consciência deles,
e só os apreciamos depois de os havermos perdido,
porque esses também são bens negativos.
Só notamos os dias felizes da nossa vida passada
depois de darem lugar aos dias de tristeza.
À medida que os nossos prazeres aumentam,
tornam-nos cada vez mais insensíveis; o hábito não é já um prazer.
Por isso mesmo a nossa faculdade de sofrer é mais viva;
todo o hábito suprimido causa um sentimento doloroso.
As horas correm tanto mais rápidas quanto mais agradáveis
são, tanto mais demoradas quanto mais tristes, porque o gozo
não é positivo, mas sim a dor, cuja presença se faz sentir.
O aborrecimento dá-nos a noção do tempo, a distração tira-a.
O que prova que a nossa existência é tanto mais feliz
quanto menos a sentimos: de onde
se segue que mais vale ver-nos livres dela.
Não se poderia absolutamente imaginar uma grande e viva alegria,
se esta não sucedesse a uma grande miséria porque
nada há que possa atingir um estado de alegria serena e durável;
o mais que se consegue é distrair, satisfazer a vaidade.
É por este motivo que todos os poetas são obrigados
a colocar os seus heróis em situações cheias de ansiedades e de tormentos,
a fim de os livrarem delas: drama e poesia épica só nos mostram
homens que lutam, que sofrem mil torturas, e cada romance oferece-nos
em espetáculo os espasmos e as convulsões do pobre coração humano.
Voltaire, o feliz Voltaire, que tão favorecido foi pela natureza,
pensa como eu, quando diz:
'A felicidade não passa de um sonho, só a dor é real,'
e acrescenta: Há oitenta anos que o experimento.
Não sei fazer outra coisa senão resignar-me,
e dizer a mim mesmo que as moscas nasceram 
para serem comidas pelas aranhas,
e os homens para serem devorados pelos pesares.

{Arthur Schopenhauer}