E por assim dizer sem motivo.
De início se sentiu vazia.
Depois os olhos ficaram úmidos:
era felicidade, mas como sou mortal,
como o amor pelo mundo me transcende.
O amor pela vida mortal a assassinava
docemente, aos poucos.
E o que é que eu faço?
Que faço da felicidade?
Que faço dessa paz estranha e aguda,
que já está começando a me doer como uma angústia,
como um grande silêncio?
A quem dou minha felicidade,
que já está começando a me rasgar
um pouco e me assusta?
Não, não quero ser feliz.
Prefiro a mediocridade.
Ah, milhares de pessoas não têm coragem
de pelo menos prolongar-se um
pouco mais nessa coisa
e preferem a mediocridade.
{Clarice Lispector}
